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Autismo: Noção de perigo e linguagem ao pé da letra

Pessoas autistas têm um estilo cognitivo diferente. Isso significa que elas pensam de um modo diferente do de outras pessoas. Já falamos sobre isso em outros artigos, e neste texto você vai entender outras duas facetas deste modo diferente de pensar:

1. pessoas com autismo não têm uma boa noção de perigo; 

2. pessoas com autismo em geral tomam a linguagem ao pé da letra.


Autismo: Noção de perigo e linguagem ao pé da letra

Autismo: Noção de perigo e linguagem ao pé da letra


Ter noção de perigo e fazer avaliação de risco

Autistas podem não ter noção de perigo, e isso, às vezes, é um enorme problema. Elas podem, inclusive, se colocar em risco de vida.

Ao contrário, pessoas neurotípicas, quando nascem, já vêm com noção de perigo e avaliação de risco embutidas instintivamente.

Imagine uma cena bastante comum. Um casal sai para uma caminhada no final da tarde; a certa altura vem ao seu encontro, uma mulher jovem, empurrando um carrinho de bebê, e, dentro do carrinho, uma criança que tem por volta de um ano de idade. A criança no carrinho olha firme para a frente. O casal para a alguns metros do carrinho, e a mulher para também. Mantendo uma certa distância, o casal tenta engajar a criança numa interação: ele acena e sorri, ela fala alguma coisa. O bebê fica impassível, olhando fixamente para o casal. Ele não sorri e não faz nenhum gesto receptivo.

O casal insiste. Acena mais um pouco, conversa, sorri para a criança. E o que o bebê faz? Se vira para trás e olha para a mãe. A mãe responde com um sorriso e um aceno positivo da cabeça. O bebê se volta novamente para o casal e então abre um largo sorriso!

O que aconteceu?

O bebê fez o que chamamos de avaliação de risco. A abordagem do casal parecia simpática e inofensiva, mas ele não tinha certeza e não sabia como reagir. Primeiro ele esperou para ver o que aconteceria. Com a insistência do casal, resolveu recorrer à ajuda da mãe – a pessoa, nesta altura da vida, que resolve todos os seus problemas e dúvidas. Como a mãe reagiu positivamente, ele se sentiu autorizado a interagir com o casal.

Um bebê que ainda não fala e não tem autonomia nenhuma, já tem noção de perigo e faz uma avaliação de risco: ele procura se certificar de que aquela situação não é perigosa e só então interage. Esta criança não é autista.

 

Não ter noção de perigo

Placa de chão molhado

Ros Blackburn, uma palestrante internacional autista, não veio ao mundo equipada com noção de perigo e avaliação de risco. E, além disso, ela tem uma irresistível fascinação por escadas. Se ela está caminhando na rua e vê uma escada na calçada oposta, nenhuma avaliação de risco é acionada no cérebro dela: ela simplesmente atravessa a rua. E Ros, de fato,  já foi atropelada mais de uma vez.

Outro exemplo: uma adolescente autista morava no centro de uma cidade e era apanhada todos os dias, a uma certa hora, por uma van escolar. Certa vez, ela se atrasou, a van não esperou, e a garota só conseguiu ver a van desaparecer em meio ao trânsito da avenida movimentada. Sem nenhuma noção do perigo da sua ação, ela começou a correr desabaladamente por entre os carros para tentar alcançar a van. 

Avaliação de risco e noção de perigo são recursos essenciais de sobrevivência que as pessoas autistas não trazem consigo instintivamente, mas que se pode ensinar em casa, na escola e em atividades de lazer.

Este assunto é abordado no curso 2 da Série Rita Jordan Prover apoio a áreas básicas de dificuldades e diferenças (módulo 2, aula 3).


Tomar a linguagem ao pé da letra

Outro aspecto do modo diferente de pensar das pessoas com autismo é o fato de elas tomarem a linguagem ao pé da letra. Por isso, muitas delas têm dificuldades para entender piadas, segundas intenções e metáforas. 

Se alguém contar que, numa festa, havia um ótimo contador de piadas e as pessoas morriam de rir das histórias dele, é bem possível que a pessoa autista pense que as pessoas realmente morreram. E vai ficar muito preocupada com essa situação, não vai entender como é que se permite que essa pessoa continue contando piadas e pode ser que fique com medo de encontrá-lo por acaso algum dia.   

Autistas também não entendem subentendidos. Imagine um pai deitado debaixo do carro, tentando consertar alguma coisa. Seu filho autista está parado ao lado, observando. Aí o pai diz: “Vou precisar da chave de fenda... Por favor, Gustavo, vai lá na garagem e vê se a chave de fenda está lá.” O menino vai até a garagem, volta em seguida e diz: “ Sim, pai, está lá.” A resposta está perfeita. Mas, na fala do  pai, havia algo mais; ele também queria dizer: “se estiver lá, traz a chave de fenda pra mim”. O menino não captou a parte da mensagem que não foi dita.  

Uma especialista que faz treinamento de convivência social para autistas conta que, depois de muitas idas e vindas, um rapaz autista finalmente conseguiu convidar uma moça para jantar. Deu tudo certo; os dois se entenderam bem. Depois da janta, o rapaz acompanhou a moça até a entrada do prédio dela e ela perguntou: “Você não quer subir para tomar um café?” E qual foi a resposta dele? “Não, obrigado, eu não gosto de café”! É claro que ela subentendia outra coisa, mas o rapaz não entendeu o que, de fato, estava por trás na proposta dela. Ele tomou a linguagem ao pé da letra e teve um prejuízo social considerável. Não se sabe se ela deu mais uma chance a ele.

Neste outro exemplo o professor diz para seu aluno: “Marcos, você pode fechar a janela?”. Marcos responde “sim” e não faz nada. Ele não é mal-educado: respondeu exatamente ao que foi perguntado. Mas na fala do professor havia uma ordem subentendida. O professor queria, de fato, dizer: “Marcos, fecha a janela.” Se eu pergunto: ”Pode me passar o sal?”, estou na verdade dizendo: “Me passa o sal”. Mas autistas não entendem assim.

 

Essa rigidez de pensamento, esse tomar a linguagem ao pé da letra, pode criar bloqueios de comunicação bem complicados para os nossos autistas. E nós, que sabemos disso, podemos e devemos colaborar. Você que convive com eles, você que é familiar ou amigo ou educador de autistas, adote um princípio: sempre diga a eles exatamente aquilo que você de fato quer dizer.


 
 
 

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