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Como os autistas pensam?


Como os autistas pensam

Por nascerem com o instinto social, pessoas típicas, não autistas, recebem pistas sociais e conseguem manter conversas de uma forma muito mais fluida do que pessoas com autismo. Por isso, quando interagem com pessoas autistas, às vezes as pessoas típicas se perguntam “como os autistas pensam?”. Essa resposta, será respondida no decorrer deste artigo. Confira.


Como pensam os autistas?

Autistas pensam de modo diferente, e isso também tem efeito avassalador na vida delas. Essa diferença no modo de pensar tem muitas facetas, e neste artigo, falaremos de duas delas: o pensar em detalhes e a incapacidade de ler a mente da outra pessoa.  


Pensar em detalhes


Interior de uma farmácia.

Vamos começar com um exemplo. Você viajou para uma cidade que ainda não conhecia e foi logo dar uma caminhada no centro. Você está andando pela calçada, sem rumo certo. Você passa por uma porta aberta e olha para dentro: nesse momento você registra estantes, prateleiras, expositores com material de higiene pessoal, pasta de dente, sabonetes, mais adiante tem material de estética feminina, hidratantes, shampoos, escovas de cabelo etc.; depois creme de barbear, desodorante masculino; no fundo desse espaço há um balcão e atrás dele, algumas pessoas de jaleco branco, e atrás delas, prateleiras com remédios. Você junta toda essa informação numa fração de segundo e conclui: é uma farmácia.

Você conseguiu fazer isso porque é uma pessoa típica e tem uma habilidade que a gente chama de coerência central. É a habilidade de captar uma vasta quantidade de detalhes e, num instante, entender o significado do todo. 

Pessoas autistas dificilmente conseguem isso, porque elas têm uma fraca coerência central. Isto é, elas não conseguem, num instante, juntar todos os detalhes e compreender o contexto.


Para pessoas autistas todos aqueles detalhes são uma avalanche de informação. O cérebro não filtra. É informação demais. Então elas focam em detalhes específicos e não veem o todo.

Assim, quando a pessoa autista entra naquela farmácia, ela instantaneamente se fixa num rótulo de shampoo, logo adiante fica fascinada pelo brilho num rótulo de sabonete, depois repara no sapato desamarrado de um cliente, então se entusiasma com o alinhamento dos medicamentos na prateleira, aí fica muito concentrada no crachá da farmacêutica...  E ela não vê o significado do conjunto. Não sabe que está numa farmácia.

Nesse sentido, a Dominique, uma autista da Bélgica, escreve no seu livro: “Toda vez que chego a um lugar desconhecido, sinto-me completamente perdida”. Porque só vê detalhes, não vê o contexto.


Esta é a experiência absoluta de todas as pessoas com autismo.

Exemplos reais de como os autistas pensam:

Com a finalidade de ilustrar como essa limitação pode afetar a vida de pessoas autistas, compartilhamos estes exemplos:

  • Numa cidade perto de São Paulo vive uma tradutora e brilhante escritora autista. Certo dia ela foi à capital para uma entrevista de emprego. A empresa ficava num prédio bem no centro. Ao meio dia, todos os funcionários saíram para almoçar, pediram que ela também saísse e chavearam a porta de entrada. Ela saiu, desceu e ficou travada na calçada, porque só via um turbilhão de detalhes e não conseguia achar o caminho nem decidir o que fazer. 

  • Marisa, autista adulta e exímia contabilista, se matriculou em uma segunda faculdade. Antes do início das aulas, o namorado foi com ela ao campus para ver onde era o prédio da secretaria. No primeiro dia de aula, Marisa procurou a secretaria para saber onde era a sala dela, e a atendente falou: “Ah, é bem fácil. Você sai aqui do prédio, pega à direita, depois vira mais uma vez à direita, e quando chegar na avenida larga aqui atrás, é o segundo prédio à esquerda.” Marisa respondeu: “Mas eu não consigo ir até lá.” A atendente olhou, confusa, e repetiu tudo bem devagar: “Mas, olha só, é bem fácil mesmo. Você sai aqui do prédio, pega à direita...”. Marisa insistiu: “Mas eu não consigo ir lá sozinha. Alguém tem que ir junto.”. De tanto detalhe, Marisa não conseguia ver o todo e achar o caminho sozinha.


Incapacidade de ler a mente da outra pessoa


Teoria da mente.

Outra faceta desse modo diferente de pensar das pessoas autistas é que elas têm dificuldades para perceber ou imaginar o que a outra pessoa está pensando ou sentindo. Os especialistas dizem que as pessoas autistas não têm a “teoria da mente”.

Imaginar o que se passa na cabeça da outra pessoa é um requisito imprescindível para qualquer tipo de relacionamento: na família, na escola, no trabalho, nas relações íntimas, em tudo. 

Imagine a dificuldade que é viver com esse déficit: não conseguir imaginar o que a outra pessoa está pensando.

Portanto, sem essa habilidade, pessoas autistas ficam desarmadas e à mercê de pessoas típicas mal-intencionadas. 


Compartilhamos aqui duas histórias reais que foram compartilhadas com a nossa equipe no decorrer dos mais de 25 anos de atuação da Pandorga:
  1. Numa classe do ensino médio, um estudante autista consegue, com muito esforço, conviver com colegas e progredir nos estudos. Certo dia, uns colegas dizem a ele: “Amanhã, você coloca uma saia e blusa da sua irmã, pinta os lábios, pinta as sobrancelhas, e faz maria-chiquinhas, e vem pra aula assim.” O garoto não tinha a teoria da mente para entender as segundas intenções. Fez tudo como tinham pedido e, obviamente, passou por uma terrível sessão de bullying na escola.

  2. Um engenheiro autista trabalhava numa grande empresa metalúrgica, num time com outros engenheiros. Um dia, alguns colegas disseram: “Cara, hoje de noite você tira algumas fotos pelado e coloca nas redes sociais.” E foi o que ele fez; obviamente, porque não tinha a teoria da mente. Os colegas, se aproveitaram desse déficit para ridic ularizar uma pessoa desprotegida. Isso ocorreu porque pessoas autistas não conseguem imaginar o que o outro está pensando, muito menos perceber as más intenções dos outros.


É assim que pensam os autistas: com foco no detalhe e incapazes de ler a mente do outro. Por isso pessoas autistas podem ter comportamentos diferentes e muitas vezes inadequados. Agora você já sabe como os autistas pensam.

Por hoje, é isto. Até mais!

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