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Qual a melhor escola para estudantes autistas?

A escolaridade de crianças e jovens autistas é uma das áreas que mais preocupa e angustia familiares de crianças e adolescentes com autismo e é importante falar sobre isso. Além disso, é um assunto que envolve muito mais do que as famílias das pessoas autistas. Envolve toda uma classe profissional que também precisa fazer parte das discussões.

Qual a melhor escola para estudantes autistas?

Qual a melhor escola para estudantes autistas?

Para orientar nossa reflexão, vamos nos basear mais uma vez na nossa professora britânica Rita Jordan. Com conhecimento acumulado em décadas de pesquisa e prática com pessoas autistas, além de experiências em vários países de todos os continentes, a professora Rita nos ajuda a ampliar nosso horizonte e oferece referências para pensarmos sobre a(s) escola(s) que queremos para nossas crianças e jovens com autismo.


Três tipos de escola

Neste artigo, vamos identificar, no horizonte internacional, três tipos principais de escolas que existem atualmente para crianças e jovens autistas. E cada um desses tipos tem vantagens e desvantagens. Qual delas é a que melhor serve à inclusão do seu filho e da sua filha com autismo? Esse é a discussão que queremos estimular aqui.


O que está em discussão não é se queremos ou não inclusão. Todo mundo quer inclusão. A questão é: o que isso significa, exatamente? As dificuldades começam por aí: definir o que entendemos por inclusão e como fazer para incluir as pessoas.


Ao redor do mundo existe uma enorme variedade de modelos diferentes de escola em geral. E dentre este leque, existem muitos modelos diferentes de escola que “acolhem” (ou não) pessoas com autismo. Sob a perspectiva da educação especial, podemos classificar as escolas, por alto, em três categorias:

  • a escola regular

  • a escola especial genérica

  • a escola especializada

 

Em primeiro lugar, a escola regular é a escola “normal”, aquela pensada para os jovens e crianças de modo geral que não tem nenhum tipo de demanda específica, e que pode, ou não, abrigar especializações dentro do seu contexto.


Em segundo lugar, escola especial genérica é a escola para crianças e jovens com diferentes condições e dificuldades diversas de aprendizagem, e que também pode incluir crianças autistas.


E, em terceiro lugar, temos a escola especializada em autismo que tem como público específico as crianças e jovens autistas.


Quais são as características de cada tipo de escola?

Todos os tipos de escola que mencionamos têm vantagens e desvantagens quando consideramos a inclusão de crianças autistas. Vamos entender o que cada uma tem a oferecer.


  • A escola regular

Escola regular

Esse tipo de escola tem a grande vantagem de fornecer bons modelos para estudantes com autismo: as crianças típicas que circulam no mesmo ambiente podem mostrar à criança autista como se portar socialmente, por exemplo.


A desvantagem é que não há apenas crianças que fornecem bons modelos. Há também crianças que praticam bullying. Muitas pessoas autistas têm episódios de bullying na sua bagagem de recordações escolares e tais episódios podem ser tão graves a ponto de levar a pessoa a sofrer de transtorno do estresse pós-traumático.


Outra vantagem de frequentar uma escola regular é que esse ambiente é muito mais propício à formação de grupos ou círculos de colegas parceiros que podem ajudar a pessoa com autismo a superar dificuldades. Esses grupos são constituídos, em geral com o auxílio de adultos, por colegas que têm a capacidade e habilidade cognitiva para prestar esse apoio.  


As escolas regulares também trabalham com um currículo amplo. O acesso a esse currículo é um direito que toda criança tem e, na escola regular, se espera que a criança autista tenha a mesma oportunidade que as outras de acessá-lo. Evidentemente, isso nem sempre acontece. Muitas vezes o comportamento da criança autista e a falta de adaptações necessárias impedem que ela tenha acesso ao currículo amplo oferecido pela escola. Mas, em teoria, esse currículo abrangente existe e a criança deveria poder acessá-lo.


A escola regular tem ainda algumas outras vantagens. É mais provável que seja uma escola local – possivelmente a mesma escola frequentada pelos irmãos da criança e mais perto do domicílio familiar. Além disso, não é uma escola discriminatória no sentido de que a criança não vai frequentar uma escola diferente daquela das demais crianças, o que não gera a necessidade de explicações, justificativas, nem possíveis constrangimentos frente às outras pessoas.

 

  • A escola especial genérica

Escola especial genérica

A escola especial genérica é, até certo nível, uma escola adaptada. Ela não é adaptada especificamente para pessoas com autismo, mas certamente é adaptada para pessoas com necessidades de aprendizagem diversas.


Esse tipo de escola pode ser uma boa opção especialmente para a criança que, além do autismo, tem dificuldades adicionais de aprendizagem. Os modelos da escola regular nem sempre são apropriados ao nível de desenvolvimento dessa criança, e ela pode ter dificuldades de se identificar com eles. Neste caso, a escola especial genérica pode proporcionar melhores modelos de comportamento, uma vez que todas as crianças funcionam no mesmo nível.


Nesse tipo de escola, a equipe profissional em geral é mais flexível e habituada a fazer adequações. Além disso, é bastante provável que as classes sejam organizadas em grupos menores, com menos alunos para cada professor e isso, no autismo, é uma grande vantagem.


Um ponto negativo da escola especial genérica é que normalmente se criam expectativas mais baixas em relação à aprendizagem da criança do que se teria se ela estivesse frequentando uma escola regular.


É verdade que uma criança com autismo pode não ter um aproveitamento tão bom quanto uma criança sem autismo. Entretanto, não existe nenhum motivo para que se espere menos dela, a não ser que a criança tenha dificuldades adicionais de aprendizagem. Portanto, se a criança autista não tiver dificuldades adicionais de aprendizagem, estaremos negando um direito que ela tem, se restringirmos nossas expectativas e não lhe permitirmos a possibilidade de utilizar todo o seu potencial.  


Um fato que pode ocorrer é que a escola especial genérica, embora frequentada por crianças com diferentes necessidades especiais, não tenha nenhuma outra criança com autismo. Isso pode significar, mais uma vez, o isolamento da criança autista, porque nesta situação é bastante provável que ela não encontre pessoas com as quais se identifique e com quem possa compartilhar experiências. E isso também é verdadeiro em relação aos familiares.


A escola especial genérica, sendo uma escola para estudantes com necessidades especiais, tem ainda uma outra desvantagem importante: ela tem um forte efeito estigmatizador. Inclusive, há pessoas autistas que dizem que prefeririam frequentar uma escola especializada em autismo a uma escola para pessoas com dificuldades de aprendizagem (posição que pode suscitar críticas pela ideia que passa de que é preferível ter autismo do que alguma necessidade de aprendizagem não especificada).

 

  • A escola especializada em autismo

Escola especializada

Na escola especializada em autismo, todos os estudantes têm em comum os mesmos tipos de dificuldades. Não são, obviamente, as mesmas dificuldades, porque as crianças são muito diferentes umas das outras. Mas todas têm os mesmos tipos de problemas.


O que se espera de uma escola especializada em autismo é que sua equipe tenha um bom conhecimento sobre essas dificuldades, e este deveria ser o critério mínimo para que uma escola possa se autodenominar “escola especializada”. Infelizmente, nem sempre é o que acontece. Ter o status de escola especializada é muito mais interessante financeiramente. No entanto, muitas escolas se dão esse rótulo, sem conseguir sustentá-lo na prática com treinamento para seus profissionais e com o entendimento adequado da condição de seus alunos.


A escola especializada tem a grande vantagem de formar uma verdadeira comunidade. Muitas pessoas autistas relatam que, quando foram transferidas de outras instituições e inseridas em escolas especializadas em autismo, pela primeira vez se sentiram em casa e se sentiram reconhecidas. A professora Rita Jordan explica que “nos relatos das pessoas autistas sobre experiências de infância vivenciadas na escola, há um fator comum que sempre se destaca: o que elas buscam, acima de tudo, é serem compreendidas.” E fazer parte de uma comunidade escolar onde se é reconhecido, contribui para uma melhor experiência de vida escolar. E isso não pouca coisa.


Se for realmente uma boa escola especializada, também se espera que ela seja mais adaptada ao autismo e mais preparada para se adaptar às expressões individuais do autismo. E, embora seja uma escola atípica, ela ainda assim terá os mesmos tipos de objetivos de uma escola regular.


Uma desvantagem da escola especializada em autismo é que o acesso ao currículo, em geral, é bastante precário. Isso se deve ao fato de que é muito incomum encontrar professores especializados tanto em autismo quanto em matérias específicas. A consequência disso é que a maioria dessas escolas não tem a qualidade acadêmica que se pode encontrar nas escolas regulares.


Esta não é necessariamente uma barreira instransponível. Principalmente hoje em dia, existem diversas outras maneiras de ajudar a criança a ter acesso a currículos diferentes e mais amplos. Porém, como aponta a professora Rita, “é uma questão que deve ser levada em consideração, especialmente porque algumas crianças com autismo realmente desabrocham quando encontram uma disciplina curricular de que gostam e na qual têm bom desempenho.”


Outro aspecto negativo das escolas especializadas é que elas costumam se localizar distante do domicílio das crianças atendidas. Às vezes, inclusive, funcionam em regime de internato. Se este é o caso, as crianças passam a maior parte do tempo fora de casa e isso tem implicações profundas para a maneira como elas se relacionam com suas famílias. Nestes casos, é comum que os pais percam gradativamente a habilidade de lidar com elas.


Um grande aspecto positivo da escola especializada, e talvez o mais importante de todos, é que ela ajuda a criança a encontrar uma identidade. Hoje em dia muitas pessoas no espectro dizem como é importante ter a sua identidade de autista. Ainda existem aquelas que negam a identidade de autistas, que não querem se ver como neurodivergentes. Mas cada vez mais pessoas no espectro sentem orgulho do seu autismo e têm prazer em poder compartilhar esse orgulho com outras pessoas.

 

Neste artigo tentamos dar uma visão geral de alguns tipo de escola que existem para acolher nossos estudantes autistas. Esperamos ter contribuído para discussões em torno deste assunto que estão longe, muito longe, de estarem concluídas. Em artigos futuros, queremos aprofundar alguns pontos relevantes para este tema.

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