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Foto do escritorPandorga Formação Autismo

Autismo e comorbidades

Entenda como as comorbidades afetam a vida das pessoas autistas.


Autismo e comorbidades

Autismo e comorbidades andam lado a lado. Cerca de 80% dos autistas têm comorbidades associadas. No decorrer do artigo, você vai entender um pouco mais sobre o efeito da associação entre autismo e outros transtornos e condições.


O que são comorbidades?

Comorbidades

Logo no início da pandemia de Covid-19, começamos a ouvir falar sobre comorbidades: muitas pessoas tinham doenças que, associadas ao vírus, agravavam os efeitos da COVID − naquele caso, principalmente problemas respiratórios e pulmonares. Em outras palavras, as comorbidades são doenças, condições ou estados físicos e mentais que coexistem com outros, na mesma pessoa, agravando os sintomas.

Comorbidades também ocorrem no autismo, e com muita frequência. Existem mais de 20 comorbidades comumente associadas ao autismo, por exemplo:

  • ansiedade

  • depressão

  • transtorno do processamento sensorial

  • deficiência intelectual

  • distúrbios gastrointestinais

  • transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH)

  • transtorno de linguagem

  • dislexia

  • transtorno do desenvolvimento da coordenação (TDC), tiques

  • transtorno obsessivo compulsivo (TOC)

  • epilepsia e muitas outras...


Autismo e comorbidades: Ansiedade e depressão

Autismo e ansiedade/depressão

De todas as comorbidades, provavelmente a mais frequente é a ansiedade e, por consequência, também a depressão. A ansiedade e a depressão se originam, sobretudo, do imenso estresse vivido pelas pessoas com autismo por terem que sobreviver num mundo que não entendem e que não foi feito para elas.


Autismo e deficiência intelectual

Outra comorbidade muito presente entre os autistas é a deficiência intelectual. Pessoas autistas com um QI entre 70 e 80 podem ser consideradas deficientes intelectuais, por terem dificuldades de manejar a própria vida. Entre os neurotípicos, cerca de 18% das pessoas têm deficiência intelectual. Na população autista, a parcela de pessoas com deficiência intelectual sobe para 36%.


Autismo e transtorno do processamento sensorial

Uma das comorbidades que tem maior impacto na vida das pessoas com autismo é a disfunção sensorial. Estudos científicos recentes, defendem a ideia de que o ser humano não possui apenas cinco sentidos. Alguns afirmam que temos 7, 9, 12 ou até mesmo 21 sentidos. Para simplificar, usaremos os cinco sentidos que aprendemos na escola: visão, audição, tato, paladar e olfato.

Como funciona a nossa percepção do mundo através dos sentidos? Estas são as etapas básicas:

  1. os nossos sentidos têm receptores por todo o corpo. Eles recebem estímulos do exterior e mandam um sinal para o cérebro;

  2. o cérebro recebe esse sinal e faz o seu trabalho: filtra, prioriza, organiza e interpreta o sinal recebido;

nós recebemos a interpretação do cérebro e então reagimos com pensamentos, emoções e ações.


Vejam um exemplo.

Família assistindo televisão.

A família está na sala, depois do jantar, assistindo ao noticiário. Da televisão vem a voz do apresentador, vêm notícias do mundo todo e, acompanhando as reportagens, ruídos de vozes, bombas, explosões, buzinas... Na hora da propaganda, o volume aumenta. Enquanto isso as crianças estão brincando pela volta, se empurram, gritam e jogam coisas umas nas outras. Além disso ainda vem o gato e pede colo. De repente, no meio de todo esse tumulto, alguém sente um cheiro de queimado, salta do sofá e corre para a cozinha.

O que aconteceu? O cérebro dessa pessoa foi recebendo toda aquela quantidade enorme de estímulos pela visão, pelo tato, pela audição, pelo olfato, captou tudo, fez uma triagem, selecionou a informação mais urgente e passou uma mensagem: tem alguma coisa queimando! Tudo isso, instantaneamente, em microssegundos. 

Bendito cérebro! Contudo, se ele não executar bem essa tarefa, o prejuízo pode ser muito grande.

O que acontece se há uma disfunção sensorial?

O cérebro pode ser muito lento e atrasar o processamento; ele pode não ler direito o estímulo recebido; ele pode fazer uma interpretação errada da informação; ele pode entregar uma mensagem muito fraca e confusa; e ele pode não filtrar e não priorizar informações fazendo com que tudo tenha a mesma importância. Se isso acontece a pessoa é sobrecarregada por uma avalanche de informações. 

Se o cérebro não trabalhar adequadamente, podemos ter uma sensibilidade sensorial muito baixa, que chamamos de hipossensibilidade, ou muito alta, denominada hipersensibilidade.

Todas as pessoas precisam de estímulos sensoriais claros, bem definidos, para sobreviver. Por isso, pessoas autistas com hipossensibilidade buscam estímulos. É uma questão de sobrevivência. Para obter esses estímulos, crianças autistas podem fazer coisas como: deitar quase sem roupa no chão de pedra molhada em pleno inverno; passar objetos ásperos na  língua; esfregar a mão numa parede áspera até sangrar; caminhar sem parar; emitir gritos; ficar o tempo todo murmurando palavras ou fazendo sons.

Podem não sentir dor, como o menino da Pandorga que, em casa, encostou o ferro quente na barriga até criar uma bolha. E não chorou. Podem sentir dor com efeito retardado (caem, se machucam e só choram horas depois, ou até mesmo no dia seguinte).

Por falta de estímulos sensoriais, podem se autolesionar: batem a cabeça no chão ou na parede, se mordem, produzem feridas e depois arrancam a casca que se forma. A intenção é sempre obter uma dor forte e bem definida, porque não suportam viver com estímulos sensoriais muito fracos ou confusos.

Criança chorando.

Ao contrário, as pessoas também podem ter sensibilidade sensorial muito alta, ou hipersensibilidade. Isso acontece quando o cérebro não filtra, não prioriza estímulos, e a sobrecarga sensorial se torna insuportável. Isso pode acontecer com luzes, roupas, sapatos, cheiros, sabores, comida e bebida desconhecidos, sons e ruídos. Para um estudante autista, a voz estridente da professora pode ser intolerável. Um ônibus cheio, um corredor movimentado, uma sala de espera lotada, a algazarra na sala de aula, aglomerações na rua, todos esses são lugares que podem representar uma enorme sobrecarga de estímulos sensoriais. Imagine um corredor de colégio na hora do recreio ou a grande família reunida para comemorar o aniversário do avô... 

Estímulos sensoriais que, para nós, podem parecer normais, ou quase imperceptíveis, como o barulho do ar condicionado ou um cachorro latindo ao longe, para pessoas autistas podem assumir proporções exageradas e insuportáveis. E um toque físico bem de leve no braço pode ser sentido por eles como uma facada. 


Não perca o próximo artigo. Até lá!

 

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