Entender a interação social no autismo é uma parte primordial para compreender o autismo. Confira!
A interação social no autismo
As próprias pessoas autistas dizem que o autismo em si, o nascer sem instinto social, afeta a vida delas principalmente nas quatro esferas seguintes:
relações com outras pessoas;
comportamentos;
modo diferente de pensar;
comorbidades.
Neste artigo vamos falar da relação da pessoa autista com as outras pessoas. O que acontece nesta esfera?
As pessoas autistas não se dão conta, por instinto, de que existem outras pessoas. É por isso que o bebê autista não se aconchega no colo. Quando está sentado no braço da mãe, ele joga as costas para trás, se afasta, fica rígido. Esse bebê não se entrega ao carinho, ao abraço. Ele não sabe que existe outra pessoa.
Da mesma forma, quando está no berço e a tia vem, faz festa, mexe o chocalho, pega na bochecha, faz coceguinhas, o bebê autista permanece indiferente, olha para o lado, não sabe o que fazer com aquela figura estranha. Ou então, se você chega perto do berço e tenta de brincar de se esconder, o bebê autista não toma conhecimento.
Também é comum a criança autista não atender pelo nome. As pessoas chamam o nome da criança e ela parece não ouvir. Preocupados, os pais levam o pequeno ao pediatra e muitas vezes recebem um diagnóstico de deficiência auditiva. No entanto, certo dia a criança se assusta por causa de um ruído inesperado e os pais percebem que ela, com certeza, não tem deficiência auditiva. O que ela tem, na verdade, é autismo.
Como essa criança vai interagir com o outro se ela não entende que essa palavra é o nome dela? Que esse conjunto de ruídos, quando juntos, são uma pista de que aquela situação tem a ver com ela? Que é ela que estão chamando? Ela não é surda, é uma criança autista.
Como entender as pistas sociais se o instinto está ausente?
Se a criança autista não aprendeu a ler o rosto da mãe, ela não vai conseguir ler o rosto de outra pessoa nem vai entender as pistas sociais sugeridas pelas expressões desse rosto. Consequentemente, torna-se muito difícil saber se a outra pessoa está feliz, chateada, triste... Para a criança, fica difícil saber se a pessoa está gostando ou não da presença dela.
E vamos além... Se a criança autista não registra a presença de outras pessoas, muito menos as pistas sociais que vem dela, como vai perceber que existem outras pessoas no mundo? E que essas pessoas sentem, vivem e pensam de formas diferentes da dela?
Como não registraram a presença das outras pessoas e não observaram como elas se comportam − ou seja, não tiveram experiências de interações sociais −, as pessoas autistas não aprendem naturalmente a falar, não aprendem gradualmente a maneira socialmente aceitável de se comportar, não aprendem o jogo social das pessoas típicas (nem as emoções, nem as estratégias sociais, nem a malandragem), e, por conta de tudo isso, não vão saber como o mundo funciona.
Assim, toda vez que a pessoa autista se depara com uma situação desconhecida, não familiar, é como se caísse, de repente, numa cidade japonesa. Imagine a situação: você se encontra, de súbito, numa rua estranha, com gente caminhando por todo lado e prédios imensos em ambos os lados da rua, cobertos de letreiros que você não consegue ler. Você não sabe onde está, para onde ir, o que comer, onde dormir ... e não consegue perguntar nada a ninguém.
É isso que sente uma pessoa autista toda vez que se depara com uma situação desconhecida.
Por todas essas razões, pessoas autistas vivem num estado permanente de insegurança e ansiedade.
E a gente se pergunta: como é que elas conseguem sobreviver neste mundo que não foi feito pra elas?
Isto é o que vamos tentar entender no próximo artigo.
Até mais!
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