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O papel da auxiliar de educação no autismo

Neste artigo vamos tratar da questão da educação/escolarização das pessoas autistas, a partir de um foco bem específico: a auxiliar de educação. Você vai ler sobre esta profissional que deve fazer parte das reflexões sobre a educação no autismo. Quando tratamos de autismo & escola, não podemos deixar de fora a figura da auxiliar de educação, também chamada de assistente de ensino, monitora, professora de apoio, entre vários outros termos. A atuação da auxiliar de educação é uma área um tanto nebulosa. Com este artigo, baseado nos ensinamentos da nossa professora Rita Jordan com sua larga experiência, queremos contribuir para esclarecer qual é o real papel desta profissional.


Nota: ao longo do artigo vamos usar o termo no feminino, a auxiliar de educação, porque mais de 95% destas profissionais são mulheres.

O papel da auxiliar de educação no autismo

O papel da auxiliar de educação no autismo

Estamos voltamos ao assunto da educação/escolarização de crianças e jovens com autismo. Em artigos anteriores já abordamos os temas dos diferentes tipos de escola e das questões que provocam tensões nesse campo de discussão. E sempre que falamos sobre educação, estamos falando direta ou indiretamente sobre o problema da inclusão. Temos que ter clareza de que inclusão não é um local, e sim um processo. Inclusão tem a ver com a maneira como incluímos pessoas, e não com o lugar onde as colocamos.   


Uma maneira de manter uma criança autista na escola regular, e que muitas vezes é confundida com inclusão, é providenciando para ela seu próprio “assistente”, um adulto que a acompanha e pode ajudá-la a se virar.


Infelizmente, pesquisas mostram que esse recurso, na maioria das vezes, não é eficaz. A razão é simples: em grande parte dos casos, esses profissionais não foram treinados para atuarem como auxiliares de educação e podem, inclusive, não entender nada de autismo. Eles funcionam como mais um companheiro para a criança. Às vezes é o único companheiro da criança.

 

A auxiliar de educação que “salvou a pátria”

Frequentemente, a auxiliar de educação é uma pessoa muito amável, uma pessoa com ótimas intenções que pode se tornar a tábua de salvação para uma pessoa com autismo.

Dean Beadle

Um exemplo desse tipo vem da experiência de Dean Beadle, um jovem autista britânico. Ele conseguiu se sair muito bem em escolas regulares durante seu período de escolarização. Hoje é um adulto muito competente profissionalmente e sua principal atividade é dar palestras sobre autismo. Eventualmente ele também se apresenta como cantor e dançarino. Ele tem uma vida tranquila e é um adulto autista bem-sucedido. Dean Beadle atribui seu sucesso na vida à auxiliar de educação que teve. Como ele mesmo conta, ela “salvou a pátria”: graças à ela, a escola era suportável e era ela quem o ajudava a compreender o que se passava.


No relato de Dean Beadle vemos que a presença de auxiliares de educação pode ser fundamental na escolarização da criança e jovem com autismo. Porém, este exemplo, ao lado de outros não tão positivos assim, mostra que a eficácia de se ter uma auxiliar de educação depende muito mais das competências e da vontade pessoal da auxiliar de educação enquanto indivíduo do que de um sistema de suporte robusto.

 

Qual deveria ser o papel da auxiliar de educação?


Mulher de origem asiática auxiliando estudante também asiática a estudar

Para um sistema de suporte dar certo, é preciso, primeiramente, que a auxiliar de educação:

  1. receba treinamento adequado e

  2. tenha tempo para dialogar com a professora da criança a quem está dando suporte. 


Esse tempo de troca com a professora é condição para que a auxiliar de educação antecipe possíveis problemas e ajude o estudante com autismo a se preparar para eles. Ela pode, por exemplo, fazer uma espécie de pré-ensaio de conceitos difíceis que serão utilizados na lição futura. Ou seja, ela pode planejar e organizar o apoio à aprendizagem da criança e não apenas improvisar no momento em que as dificuldades se apresentam.


Esta é a função de uma auxiliar de educação: antecipar, planejar e organizar. Não é função dela fazer as tarefas que a criança tem dificuldade de realizar, e que é o que muitas vezes acontece quando há improviso em vez de planejamento.


As outras crianças da turma também podem ser agentes de apoio para a criança autista. Isso é melhor do que ter um adulto sentado ao lado dela. Portanto, seria muito interessante que a auxiliar de educação incentivasse e treinasse as outras crianças a ajudá-la a dar apoio ao colega com autismo.     

 

Uma auxiliar de educação bem treinada também pode trabalhar com as outras crianças na hora do recreio: ela pode ajudar a criar brincadeiras em que a criança autista também consiga se envolver. Outra tarefa útil para a auxiliar seria pensar em atividades que ajudassem a criança a fazer a transição de uma área para outra da escola.


A auxiliar de educação também pode ajudar a organizar pequenos grupos de atividades. Um exemplo são grupos de legoterapia. Nessa atividade todas as crianças colaboram para construir, juntas, uma estrutura de Lego, todas trabalhando para atingir o mesmo objetivo e com papéis bem definidos que a auxiliar pode delinear previamente.


Ou seja, há diversas situações, além da sala de aula, em que uma auxiliar de educação pode intervir de maneira positiva para ajudar na inclusão do estudante autista. Não podemos esquecer que a criança autista precisa de auxílio principalmente em situações sociais, nos períodos antes, depois e entre as aulas.

 

O que não deveria ser papel da auxiliar de educação

Na realidade, infelizmente, o que acontece na maior parte do tempo é bem diferente do que acabamos de descrever. Vários aspectos fazem com que a atuação dessa profissional não cumpra a função que deveria.


Em primeiro lugar, existe uma grande confusão quanto à função da auxiliar de educação. Muitas vezes, não é claro para nenhuma das partes o que se espera dela. Muitas auxiliares que são contratadas não tem nenhum tipo de preparo para a função que devem assumir, e não recebem nenhum treinamento, ou um treinamento muito superficial.


É comum que a escola “empurre” integralmente para a auxiliar a tarefa de “dar conta” do estudante autista, quando esta deveria ser a tarefa de uma equipe. Muitas auxiliares se veem obrigadas a cobrir funções que deveriam ser de outros profissionais treinados para tal. Além de tudo isso, essas pessoas, em geral, são muito mal remuneradas. Evidentemente, todas essas questões contribuem para que a função de auxiliar não seja muito respeitada.


Auxiliares de educação com um bom preparo e com clareza de suas funções são casos extremamente raros e o papel delas acaba sendo o de ajudar a criança a conseguir aguentar a escola e chegar ao final do dia. Isso pode até ser útil e necessário, em parte, mas dificilmente é educacional.

Auxiliar de educação estressada

Além disso, pelo fato de estar sentada na sala de aula junto do estudante, a pessoa pode se tornar uma barreira para a inclusão da criança autista porque as outras crianças certamente não vão querer interagir com um colega que vem para a escola com seu próprio adulto. É muito inibidor.


O que frequentemente acontece é que na hora do recreio, quando a criança é mandada para o pátio e precisa dar conta de relações sociais, a auxiliar vai fazer a sua pausa do café com os outros professores. Muitas vezes as auxiliares de educação acompanham a criança apenas dentro da sala de aula. Este é um modelo que pode funcionar com crianças que têm apenas dificuldades de aprendizagem. Mas não é nessa área que a criança com autismo precisa de apoio e ajuda. E muitas vezes é exatamente nesses momentos que o auxiliar não está disponível.


Há situações em que a principal função atribuída à auxiliar de educação seja a de ficar correndo atrás da criança autista que não consegue parar quieta ou então distraí-la com qualquer tipo de atividade para que ela não atrapalhe a aula.


A auxiliar de educação também pode entender que tem o papel de concluir tarefas. Imagine que a tarefa dos alunos é desenhar um mapa, e a criança autista tem dificuldades. A auxiliar de educação, que talvez não entenda muito de autismo, nem conheça suficientemente a criança, pode acabar fazendo o mapa por ela. Isso é mais fácil do que ajudar a criança a desenhar o mapa ou a compreender o que deve ser feito.


A consequência desse tipo de atuação é que a criança autista vai deixando de se esforçar, já que outra pessoa está fazendo o trabalho por ela. Esse fenômeno é chamado de incapacidade aprendida. A criança aprende que não é muito boa em certas atividades e que alguém fará as tarefas no seu lugar. Isso é quase o oposto do que se espera da educação.

 

Esperamos que este artigo tenha deixado claro que uma auxiliar de educação tem algumas atribuições fundamentais para o sucesso da inclusão do estudante autista. E simplesmente ajudar a criança a terminar tarefas, distraí-la para que não atrapalhe, ou correr atrás dela quando não consegue ficar parada, não fazem parte dessas atribuições.

Por isso, a auxiliar de educação enquanto profissional deve respeitada e levada muito a sério. Essa pessoa não é uma babá. Ela não está aí para cuidar da criança autista. Ela está aí para dar suporte à educação desta criança. São duas coisas diferentes. Ela é uma auxiliar de educação. O papel dela também é educar.


Para que ela possa fazer isso, é preciso que esse papel seja devidamente valorizado em todos os sentidos. É importante que pais e escolas tenham clareza sobre isso. Não adianta reivindicar uma auxiliar de educação e não ter pessoas treinadas para assumir essa função nem saber exatamente o que essa pessoa deve fazer.


Trabalhar em prol da inclusão é também entender esses papéis, entender cada uma das peças que faz a inclusão funcionar.

               

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