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Quem é Naoki Higashida?


A imagem apresenta um fundo azul claro com formas geométricas e silhuetas de borboletas brancas e azuladas. No canto superior esquerdo, há o título em letras grandes e azul-escuro: "BIOGRAFIA Naoki Higashida". Na parte inferior esquerda, há uma foto de Naoki Higashida quando jovem, sorrindo, vestindo camisa xadrez e suéter preto com gola branca. Ao lado dessa foto, aparece a capa do livro O que me faz pular, com fundo azul e folhas estilizadas, contendo o nome do autor e de David Mitchell. À direita da imagem, há uma foto mais recente de Naoki Higashida, já adulto, usando terno preto, camisa branca e gravata azul-clara com listras diagonais, olhando diretamente para a câmera.
Quem é Naoki Higashida? Conheça sua biografia.

Naoki Higashida foi diagnosticado com autismo grave aos 5 anos de idade. Ele é um jovem escritor japonês, nascido em 1992 na cidade de Kimitsu, no Japão, e hoje tem aproximadamente 20 livros publicados.


Naoki escreveu seu primeiro livro, O que me faz pular, quando tinha 12 anos. O livro fala sobre autismo e, infelizmente, é o único até agora traduzido para o português. Ele escreveu outros livros sobre autismo, mas também poemas, ensaios e livros infantis.

Uma característica importante do autismo de Naoki, e que torna sua obra ainda mais significativa, é que ele é um autista não verbal; aliás, não falante. Ele consegue emitir muitos sons − isso tem sua importância como você vai ver adiante −, mas fala apenas algumas poucas frases fixas.


Durante muito tempo, Naoki sentia que ninguém o entendia, embora ele tentasse se expressar... por meio de gritos, choros e crises. Ele também sentia que atrapalhava as pessoas, que estava sempre causando problemas e que não tinha nada para contribuir. Ele se odiava de maneira extrema por isso; se odiava por não ser “normal”. Quando criança, Naoki fugiu várias vezes porque não queria nem que as outras pessoas o vissem.

São palavras de Naoki: “Quando eu era pequeno, nem sabia que era uma criança com necessidades especiais. Como descobri? Com os outros me dizendo que eu era diferente de todo mundo, e que isso era um problema.” Ele diz que era muito difícil agir como uma pessoa “normal” e que até hoje não consegue ter uma conversa “de verdade”. É interessante o fato de que Naoki não tem problemas para ler livros em voz alta ou cantar, mas, quando tenta falar com alguém, as palavras em que ele pensa simplesmente desaparecem. O mais intrigante é que de vez em quando ele consegue articular algumas poucas palavras, mas elas podem acabar dizendo exatamente o contrário do que ele pretendia!


POR QUE SER ESCRITOR?

Naoki diz que resolveu se tornar escritor porque viu aí uma maneira de se conectar com o mundo. Como pessoa não falante, ele percebeu que se escrevesse, as pessoas teriam a chance de conhecê-lo melhor.


O fato de não conseguir se comunicar, fazia com que Naoki se sentisse extremamente só. A possibilidade de se comunicar, concretizada através da escrita, o tirou dessa extrema solidão. Existe motivo melhor para escrever?


No momento em que aprendeu a escrever frases, começou a formular seus pensamentos em forma de poemas e de histórias. Nessas histórias, ele é o personagem principal vivendo no mundo das pessoas “normais”. Através dessa escrita, da imaginação de si mesmo como personagem, ele se sente livre para viajar pelo mundo “normal”.


Naoki sabe que talvez não seja capaz de entender os comportamentos e pensamentos das outras pessoas. E ele se questiona constantemente se elas conseguem entender o que ele quer dizer ao escrever. Por essa razão, ele é muito atento para não deixar lacunas entre a própria perspectiva e a perspectiva dos outros.


Nos ensaios que escreve hoje em dia, Naoki argumenta que pessoas com necessidades especiais precisam ser encorajadas a crescer, se desenvolver e ter ambições próprias, como qualquer outra pessoa. Ele chama a atenção para o fato de que, em geral, não se pergunta para crianças com necessidades especiais o que elas querem ser quando crescerem. Deveríamos perguntar. E, segundo ele, “a resposta não precisa ser uma profissão. Mais do que qualquer resposta, é o ato de imaginar que realmente conta.”


COMO É QUE NAOKI ESCREVE E SE COMUNICA?

O principal instrumento de comunicação que Naoki usa para escrever é uma espécie de prancha que mostra as letras do alfabeto. Ele tem uma prancha com as letras do hiragana japonês e outra que imita um teclado QWERTY. Foi a mãe de Naoki quem desenvolveu esse instrumento para ele.


A imagem mostra duas pranchas de comunicação, uma no padrão QWERTY e outra com o silabário japonês hiragana, acompanhadas de números e alguns símbolos.
Imagem do livro O que me faz pular

No prefácio do seu primeiro livro, Naoki também menciona a importância da sua professora, Srta. Suzuki, e seus ensinamentos.


No início, Naoki nem sonhava que esse tipo de meio de comunicação pudesse funcionar. Porém, quando soube que em outros países havia pessoas que o usavam, sentiu-se encorajado a aprender a usá-lo também.


Levou um bom tempo até ele começar a se comunicar através do texto por conta própria e, enquanto estava aprendendo, em muitos momentos se sentiu completamente derrotado. No entanto, desde o primeiro momento em que sua mãe o ajudou, guiando sua mão para escrever, ele começou a descobrir uma nova forma de interagir com as outras pessoas. E, finalmente, chegou ao ponto em que podia indicar as letras sem ajuda. Com tempo, prática e muita vontade, ele se tornou capaz de se expressar de verdade apenas com uma prancha de alfabeto ou um computador.


E como funciona esta prancha? Quando usa a prancha QWERTY, Naoki aponta com o dedo para letras do alfabeto latino para formar os ideogramas do japonês. Quando ele toca na letra, ele a pronuncia em voz alta. Outra pessoa, muitas vezes a mãe, transcreve as letras que ele lê ou as palavras inteiras que se formam e é assim que seus pensamentos se concretizam em texto. Para Naoki, a prancha de alfabeto é um meio de “aprisionar” as palavras que, de outro modo, “voariam para longe”.


Naoki também usa o computador, mas ele mesmo explica que essa forma não funciona tão bem quanto a prancha, porque ele fica obcecado com certas letras ou escreve a mesma palavra muitas e muitas vezes e acaba se distraindo com isso.


Neste vídeo é possível ver como Naoki usa o computador e a prancha de alfabeto e como os sons que ele consegue fazer o ajudam a reter as palavras.


NAOKI E O MUNDO DAS PESSOAS “NORMAIS”

Quando criança, Naoki tinha um profundo desejo de ser “normal”. Pessoas lhe diziam que era um problema ele ser diferente. Ele não queria ser um problema e por isso estava sempre observando as pessoas ao seu redor, tentando se comportar como elas. Mas esse mundo “normal” era muito misterioso. Era como se ele estivesse assistindo a um filme sobre outro planeta. E, por mais que observasse, ele não conseguia se comportar como as pessoas “normais”.


Veja o que Naoki conta sobre a maneira como ele vivencia a chuva. Este é um bom exemplo de como a experiência de mundo dele é diferente da experiência de mundo da maioria das outras pessoas. Quando começa a chover, a primeira reação que ele tem é de surpresa por causa do som. As outras pessoas parecem saber instantaneamente que é chuva. Mas Naoki fica ansioso porque não sabe o que é nem de onde vem, até que alguém lhe diga, “é chuva”. Nesse momento ele tenta conectar o som que ouve com o está vendo e, por isso, fica olhando fixamente para a chuva. Ele fica tão absorto que se esquece de onde está. E a experiência sensorial de sentir a chuva escorrendo pelo corpo faz com que ele se esqueça de si mesmo. Como ele diz: “são percepções sensoriais e maneiras de pensar que só pessoas com autismo podem explicar.”


Com o tempo, Naoki percebeu que com algum esforço ele poderia aprender a fazer algumas coisas. Mas também entendeu que outras coisas, por mais que tentasse, ele jamais conseguiria fazer.


Outra coisa que Naoki percebeu é que havia uma diferença entre o que ele gostava e era importante para ele e o que as outras pessoas gostavam e valorizavam. Ele começou a entender que não devia fazer de tudo apenas para agradar aos outros.

Hoje, Naoki é um adulto capaz de se comunicar. E observar as pessoas e o mundo continua sendo importante: ele escuta o que as pessoas falam, olha TV e gosta de música (ele também lê, mas não muito). Naoki acredita que há pontos positivos em ser autista porque há coisas que só pessoas autistas sabem. E para ele, ser entendido com empatia pelas outras pessoas é um grande alívio.


O QUE ME FAZ PULAR, o livro

O primeiro livro de Naoki é organizado na forma de perguntas e respostas. São perguntas comuns, de pessoas neurotípicas, sobre seu autismo. Por exemplo: “Por que você mexe seus braços e pernas dessa maneira tão esquisita?”, “Você gostaria de ser ‘normal’?”; “Por que você memoriza tabelas de horários de ônibus e calendários?”; “Por que você é tão obsessivo em relação a certas coisas?”; “Por que você está sempre correndo para algum lugar?”.


O que me faz pular fez um enorme sucesso, não apenas no Japão e, hoje, está traduzido para mais de 30 idiomas.


Leia alguns trechos do livro O que me faz pular, de Naoki Higashida:

“Você acha difícil escolher as roupas certas?”

“Pode estar um calor escaldante, e sabemos disso, só que não ocorre a um autista que tirar o agasalho é uma boa ideia. Nós entendemos a lógica, apenas nos esquecemos. Esquecemos o que estamos vestindo e como poderíamos evitar o calor.”


“Por que você não faz as coisas assim que mandam?”

“Às vezes eu não consigo  fazer o que quero ou o que deveria. Mas não significa que não queira fazer. É só que eu não consigo juntar as coisas na minha cabeça. Mesmo quando se trata de uma tarefa simples, é impossível ir lá e começar com a mesma naturalidade que vocês.”


“Por que você nunca para quieto?”

“Meu corpo está sempre em movimento. Não consigo ficar parado. Quando não me movo, é como se minha alma estivesse deixando o meu corpo, e isso me deixa tão nervoso e assustado que fico ainda mais irrequieto. Estou sempre procurando a saída. E, apesar do desejo incessante de querer estar em outro lugar, nunca consigo encontrar o caminho para lá. Sempre há uma luta acontecendo dentro do meu corpo e, quando estou parado, a certeza de que sou um prisioneiro aqui fica martelando na minha cabeça. No entanto, consigo relaxar um pouco enquanto me movimento.”


COMO A OBRA DE NAOKI FICOU CONHECIDA NO OCIDENTE?

O livro de Naoki, O que me faz pular, chegou ao ocidente através de uma família nipo-britânica. Keiko Yoshida, japonesa, é casada com o escritor britânico David Mitchell. O casal tem uma filha e um filho, e o menino tem autismo grave. Keiko tomou conhecimento da existência do livro de Naoki, no Japão, e o encomendou para tentar entender melhor seu filho. Com o livro em mãos, ela começou a traduzir informalmente certas partes para que algumas outras pessoas também pudessem lê-lo: educadores, cuidadores do seu filho e amigos com filhos autistas. Quando o casal percebeu que havia uma demanda maior pela tradução do livro (por exemplo, de imigrantes japoneses que tinham filhos autistas e gostariam que os professores de seus filhos lessem a obra) começaram o movimento para traduzi-lo e publicá-lo oficialmente em inglês. A versão que temos em português foi traduzida do inglês.


Tudo o que Naoki consegue fazer hoje só foi possível com a ajuda da família, em particular, da sua mãe. E em muitos dos seus textos, ele expressa sua gratidão a ela.

Se não aprofundarmos o nosso raciocínio um pouco, pode até parecer lógico que uma pessoa que não fala também não entende, não pensa, não sente e não tem nada a dizer. Naoki deixa muito claro que isso está longe da realidade. Quem não fala também têm coisas a dizer. Coisas muito importantes. E esse talvez seja o principal recado de Naoki para o mundo “normal”.



Fontes usadas para este artigo:

HIGASHIDA, Naoki. O que me faz pular. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.

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